sábado, 27 de outubro de 2012

Retorno à Cidade Fantasma

Faz um dia que retornei à Cidade Fantasma, Hebron, e estou relembrando de meu períodode três meses aqui. Tudo é tão familiar, embora a sensação de estar aqui seja diferente. Não parece que se passou mais de um ano desde que fui embora, nem de que passei 'apenas' três meses aqui. Para algumas pessoas, um dia em Hebron basta para compreender o que há de mais desumano na ocupação israelense da Cisjordânia. Não foram poucas as pessoas, especialmente sionistas, que mudaram sua percepção de mundo ao visitarem a Cidade Fantasma (não o cenário 'bíblico' criado pelos colonos). Há aqueles que vem por mais tempo e testemunham o cotidiana desse lugar insólito. Nas palavras de Hanna Baraga, ativista das ONGs israelenses Machsom Watch e Yesh Din, "se você acredita que fez algo tão terrível nessa vida e vai para o inferno por isso, passe um mês em Hebron e você terá uma idéia do que lhe aguarda no pós-vida". Pouco mudou na cidade, na dinâmica e nas pessoas. Houve claras mudanças na praça principal antes da cidade antiga (Bab al-Zawiya), onde foi erguida uma fonte e uma torre pequena com relógio. Na cidade antiga, a barreira que separava essa parte da cidade do antigo terminal de ônibus (há muito transformada numa base militar israelense), foi incrementada, sendo agora uma grande chapa de metal, ao invés de uma cerca (uma grade com arame farpado). Ainda há muito o que rever nessa cidade que, embora não tão conhecida quanto Jerusalém, é segundo a tradição o local de onde teria se estabelecido a comunidade que primeiro professou a fé em um único Deus. Hebron pode ser considerada abençoada por ter sido o local de berço adotivo do monoteísmo, mas hoje essa benção parece mais amaldiçoá-la.